Rio: “The Doubts That Came Back Down The Hill”


Morro da Mineira: BOPE brings the bodies back.

A incerteza que desce o morro (“The doubt that comes back down the hillside”): The Estado de Paulo‘s Aureliano Biancarelli interviews sociologist Gláucio Ary Dillon Soares of IUPERJ, a Rio de Janeiro academic think tank, on the Catumbi-Mineira incident.
Says Prof. Dillon Soares:

As long as we do not have a trustworthy police force, all future scenarios are equally risky.

I translate.

Nas imagens da guerra do tráfico na terça-feira, no centro do Rio, soldados aparecem protegendo moradores e arrastando corpos nas escadarias do morro da Mineira. Bandidos são perseguidos em catacumbas e policiais ocupam o velório. Foram 13 baixas entre os traficantes, supostamente vítimas dos tiros que eles mesmos trocaram. Outros seis morreram na zona oeste da cidade. Foram 19 “bandidos” mortos, nenhum policial ferido. Entre os moradores, três atingidos por bala perdida.

In the images from the drug wars on Wednesday in downtown Rio, soldiers appear protecting residents and dragging corpses down the stairs of the hillside shantytown of Mineira. Bandits are pursued through the catacombs and policemen occupy the funerals. There were 13 casualties among the drug soldiers, allegedly victims of gunfire exchanged among themselves. Another six died in the Eastern Zone of the city. 19 “bandits” dead, no police wounded. Among residents, three hit by stray bullets.

Again: By disturbing the crime scene — removing both weapons and corpses — PMs make it impossible to reconstruct events and either confirm or falsify their version of events.

Or even to confirm that all weapons and contraband apprehended have been handed over for destruction or confiscation. For a parallel case, see Tijuana: Life Imitates The Sopranos. As Prof. Soares comments:

Apprehensions of drugs and weapons has grown a great deal, but it is difficult to measure the impact because part of the drugs apprehended return to the market.

And this has been a standard operating procedure for decades, judging from Caco Barcellos’ reporting in Rota 66, which documented these practices in an “elite” São Paulo PM unit in the 1980s and 1990s.

Brazilian journalists rarely broach such topics openly, and you cannot blame them. Mr. Barcellos had to go into exile for three years after publishing his book, for example, and PM “blogs” and associated Web sites make creepy statements about unsympathetic or skeptical journalists.

Olavo de Carvalho‘s Mídia sem Máscaras is a past master of this game. Mr. Carvalho is still apparently in the U.S. on a journalist visa. Sponsored by whom, by the way?

A primeira leitura que se faz é a de que os traficantes estão se matando. E uma pergunta, bem mais complexa, já se coloca: a guerra urbana no Rio pode acabar por falta de soldados do tráfico ou pela redução da clientela consumidora de droga, assustada com tanta violência? “O fato é que a polícia está apreendendo mais armas e drogas, as entradas do morro estão mais controladas e os riscos de morte no tráfico ofuscam a promessa de status e dinheiro fácil”, diz Gláucio Ary Dillon Soares, sociólogo, especialista em violência e pesquisador do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj).

The first reading of these images is that traffickers are killing one another. Which raises another, much more complicated question: Could the urban warfare in Rio die out for lack of drug soldiers or through the reduction of retail consumers, who are scared off by the violence? “The fact is that the police are apprehending more and more drugs and arms, the points of access to the hillsides are more closely controlled and the risks of death in the drug business are undermining the appeal of status and easy money,” says Prof. Dillon, a specialist in violence at [IUPRJ].

Apesar da matança dos últimos dias, apenas uma amostra do que pode gerar a disputa entre traficantes, Soares acredita que a pobreza e a desigualdade dos morros e periferias suprirão as fileiras do tráfico por muito tempo ainda. “A ocupação policial chega, prende ou não, mata ou não, depois vai embora e tudo volta ao que era antes. Uma ocupação social dessas áreas, que significa implantar escolas e postos de saúde, por exemplo, requer tempo e dinheiro.” Hoje, ninguém arrisca dizer se o tráfico no Rio vai se recolher e mudar de ramo ou partir para confrontos mais violentos na tentativa de garantir seus espaços – o que transformaria os morros em campos de guerra.

But despite the slaughter of recent days, which is only a small sample of what a dispute among traffickers could produce, Soares believes that poverty and inequality on the hillsides and in the periphery will swell the ranks of the traffic for a long time to come. “The police occupation arrives. It arrests someone or it doesn’t. It kills someone or it doesn’t. Then it leaves and everything returns to what it was before. A social occupation of those areas, setting up schools and health clinics, for example, requires time and money.” Today, no one will venture to guess whether the Rio traffic will recede, going into other lines of business, or whether it on more violent confrontations to safeguard its turf, which would transform the hillsides into battlefields.

A São Paulo teacher friend of mine has some harrowing stories to tell about the effort to establish public schools in shantytowns.

The solution proposed by many: Establish permanent community police precincts in those areas first.

“O que aconteceu nesta semana pode ser lido como o resultado tanto de um êxito como de um fracasso policial”, diz Soares. É certo que a ação da polícia e a entrada das milícias assustam a clientela da zona sul, mas tanto a milícia pode assumir o tráfico quanto as facções de traficantes podem se associar. “Enquanto não tivermos uma polícia confiável, todas as previsões são arriscadas.”

“What happened last week can be read as a police failure as much as it can a police success,” Soares says. It is true that police action and the presence of militias frighten away the upscale clientele from the Zona Sul, but the militias are just as likely to take over the traffic as other factions of the drug trade. “While we do not have trustworthy police, all the scenarios look risky.”

Soares acaba de lançar o livro As Vítimas Ocultas da Violência na Cidade do Rio de Janeiro (ed.Civilização Brasileira), em parceria com os pesquisadores Doriam Borges e Dayse Miranda, no qual procurou chamar atenção para a dor escondida dos filhos, pais, avós e irmãos, familiares dos que tombam nos confrontos urbanos. São pelo menos 10 milhões de pessoas de alguma forma vinculadas aos 2,5 milhões de mortos contabilizados entre 1979 e 2004 no Brasil. É gente que o Estado não vê e, muitas vezes, é obrigada a viver na mesma comunidade onde mora o assassino. Da Universidade de Salamanca, na Espanha, onde está como professor-visitante, Soares acompanhou o noticiário da semana pela Internet: “Em cada corpo que descia pelas escadarias do morro da Mineira, eu via outras 40 pessoas chorando por elas.”

Soares has just released the book The Hidden Victims of Violence in the City of Rio de Janeiro … along with researchers Doriam Borges and Dayse Miranda, in which tries to draw attention to the hidden pain of the children, parents, grandparents and siblings of those who fall in urban violance. At least 10 million persons are linked in some way to the 2.5 million violent deaths counted between 1979 and 2004 in Brazil. These are people the State never sees, and often are obliged to live in the same community as the murderer. From the University of Salamanca in Spain, where he is a visting professor, Soares followed the news this week on the Internet: “For every body that came down the stairs at the Morro da Mineira, I saw another 40 persons crying for them.”

Abaixo, trechos da entrevista que concedeu ao Aliás:

Below, excerpts from the interview he gave to Aliás:

SEM ACORDO

No Quarter

“Quando o mercado de drogas se reduz, o que parece estar acontecendo agora, duas coisas podem ocorrer: ou as gangues mudam de atividade, migram para assaltos, por exemplo, ou entram em luta por espaços. O que antes permitia, ironicamente, um acordo de cavalheiros, ‘você vende lá, eu vendo aqui’, porque havia fartura, passa a ser cada um por si. As facções podem até fazer acordo, como acontece quando enfrentam a polícia, um grupo alugando fuzil para o grupo. Mas quando a disputa é por ponto de droga, o mais comum é um grupo descer em peso e tomar o morro do outro, quem resistir morre.

When the market for drugs shrinks, as it seems to be doing now, two things can happen: Either gangs go into other businesses, migrate to robberies, for example, or else they go to war over turf. What once, ironically, permitted a gentleman’s agreement — “You sell over there, I’ll sell over here” — because there was plenty to go around, has become every man for himself. The factions might even negotiate a truce, as happens when they confront the police, one group renting weapons to another. But when the dispute is over points of sale, the most common thing is for one group to arrive in force and take the other’s territory, and anyone who fights back, dies. 

MENOS ALCAGÜETES

Fewer Snitches

“Novas políticas públicas já estão fazendo efeito sobre o mercado e a ação dos traficantes. A despeito de uma cooperação ainda parcial da polícia, a segurança pública virou prioridade no Rio de Janeiro, e não era. A banda podre da polícia está sob inspeção. Se fizer besteira, vai ser chutada. A apreensão de drogas e de armas cresceu muito, mas é difícil medir esse impacto porque parte da droga apreendida volta ao mercado. A tendência é que a polícia use mais meios eletrônicos e menos alcagüetes, como nos países desenvolvidos. É natural que todo esse cenário, mais a presença das milíciais, acirre disputas de gangues e afaste o consumidor. Um garotão da zona sul que subia o morro para comprar sua droga, hoje está com um pé atrás. Isso explica porque já tem muito revendedor descendo para o asfalto.

“New public policies are having an effect on the market and the business activities of the traffic. Despite police cooperation that remains only partial, public safety has become a priority in Rio where it was not before. The crooked element in the police is under the microscope. If they do something stupid, they are going to be kicked out. Apprehensions of drugs and weapons has grown a great deal, but it is difficult to measure the impact because some of the drugs apprehended return to the market. The trend is to use more electronic intelligence and fewer informants, as is the case in developed nations. It is natural that in this whole scenario, in addition to the presence of militias, that gang disputes heat up and drive away the consumer. A kid from the Southern Zone who used to go up the hillside to buy his drugs is leery nowadays. That explains why we have so many resellers going down to work the asphalt.”

MEDO DA MORTE

Fear of Death

“A situação no Rio, com relação ao tráfico, não pode ficar muito mais grave do que já se viu, inclusive porque não há tantas peças de reposição, tem muita gente morrendo, e isso asusta. São quase um milhão de favelados na área metropolitana do Rio, mas cada jovem que pensa em entrar no tráfico faz antes suas contas, pesa os benefícios, os ganhos em dinheiro, em status, em mulheres, e pesa os riscos crescentes de morte de de ferimentos graves. Os jovens vêem isso e sabem disso. Então, quando morrem 19, como na terça-feira, isso não passa indiferente a eles.

[tktktktk]

REDUZIR A DOR

[tktktktk]

“O objetivo da pesquisa que fizemos é ajudar a reduzir a dor daqueles que perderam familiares de forma violenta, em assassinatos, acidentes de trânsito, suicídios. Foram 800 entrevistas com essas vítimas ocultas que se defrontam com uma burocracia insensível, e para as quais nem a mídia nem o Estado têm olhos. Acabaram de perder o filho e têm que reconhecer o corpo desfigurado, têm de enterrá-lo e não sabem como, nem têm dinheiro para isso. Funcionários preparados ajudariam a reduzir a dor dessas vítimas, diminuindo os riscos de traumas que vão afetar seriamente e por muitos anos suas vidas.

[tktktktk]

CENTROS DE TRAUMA

[tktktktk]

“A USP e a Unifesp, em São Paulo, têm bons centros de trauma. Mas no Rio de Janeiro não há, nem as universidades estão atentas a isso. As vítimas tratadas se recuperam bem, as demais sofrem por um período muito longo. Investir nas centenas de centros de trauma necessários é um seguro para cada um de nós, porque todos podemos ser vítimas da violência. Pela mídia, só vemos os corpos sendo arrastados, não nos ocorre as dezenas de pessoas que choram por eles. Alguns daqueles corpos estendidos já mataram muitas pessoas, e também já deixaram muita gente sofrendo. Esse ciclo de dor precisa acabar.”

[tktktktk]

I keep trying to dig up price trend information From the Rio cocaine market. Has there been any leveling out at all of the downward trend in retail prices over the last 30 years, as I read in a SCIELO report?
Let me see if I can get a copy of this IUPERJ research.

And that aside about “resellers” on the “ashphalt” bears looking into as well.

Leave a comment